Eu nunca serei yo |
|
Um caderno de trabalho de Séchu Sende
A minha obra neste caderno está licenciada baixo creative commons, copiceibe.
O autor solicita comunicar-lhe qualquer uso ou modificaçom da sua obra no email de contacto aqui sinalado. |
|

|
Contacto |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Os paus chineses |
|

Mira, um restaurante chinés, podemos jantar neste lugar, dixem-lhe á pequena. E entramos.
- E que tenhem para comer aqui?, perguntou, quando viu o dragom no vestíbulo. Lila tem três anos e os dragóns encantam-lhe!
- Uuuummm, já verás, comida mui diferente, a ver se gostas...
Sentamos. Um camareiro achegou-se. Olá, bom dia, olá.
-Queriamos comer algo..., dixem. O camareiro foi pola carta e trouxo tamém dous envelopes de papel com um par de paus chineses de madeira.
Lila perguntou:
- E isto?
- Som paus chineses, som para comer.
E abriu o seu envelope e ficou olhando para os dous paus.
- Mira, dixem-lhe, é assi, dixem-lhe colhendo-os eu entre os meus dedos... Ves?
Ela intentou termar deles com os seus dedinhos.
-Espera um momento, vou ao banho, dixem-lhe. Venho agora. E levantei-me e deixei-na admirando os paus chineses, com curiosidade.
Nom tardei muito, apenas um par de minutos, mas quando voltei a pequena estava a morder a ponta dum dos paus, ao que já lhe faltavam dous centímetros, e tinha vários anacos de madeira entre os lábios...
- Que fas?, exclamei.
Ela olhou-me sorprendida e dixo:
- Dixeches que eram para comer! E nom sabem a nada! |
|
|
|
O grilo de Manuela Lores |
|
Era umha mulher forte Manuela Lores.
Erguia 30 quilos de berberechos sobre a cabeça e levava-os a vender 17 quilómetros de Samieira a Pontevedra, 17 quilómetros.
O dia que morreu a mai de Mencia era noite.
Morrera a mai de Mencia e havia que trazer um ataúde de Pontevedra. Nom havia dinheiro para o porte nem animais de carga nas casas vizinhas.
- Vou eu, dixo Manuela Lores.
E saiu de noite polo caminho da noite.
Eram 17 quilómetros de lua grande e chegou á casa do carpinteiro e petou na porta de noite e abrirom a casa das caixas dos mortos.
- Quero levar um ataúde, dixo Manuela Lores.
- E de que preço?, com sono perguntou o carpinteiro.
- O mais barato.
- E de que medida?
E Manuela Lores nom sabia.
- Para umha morta como eu som, do meu tamanho.
- Proba este de aqui, deita-te dentro.
E Manuela Lores entrou na caixa cruçando os braços sobre o peito.
Pagou e botou a caixa á cabeça, Manuela Lores, encima do molido. Aos oito anos começara a levar sobre a cabeça feixes de erva e cestos de roupa e terrons da leira e grao para o muinho e argaço e pedras e muitas outras cousas.
E começou a caminhar Manuela Lores com um ataúde na cabeça os 17 quilómetros de volta a Samieira á luz da lua. 17 quilómetros.
Olhava para adiante Manuela Lores, e ás vezes para abaixo e num passo quase pisa um grilo. Pisou com o calcanhar mas deixou o resto do pé no ar, ergueu o pé e o grilo fixo cri, fixo cri cri e Manuela Lores sorriu e seguiu a caminhar.
Olhava a sua sombra á luz da lua e sobre a sua sombra, a sombra do caixom da morta.
E umha vez fecharom-se-lhe os olhos e avançou quase durmida. Pessava-lhe mais o sono que a caixa de madeira. E com os olhos fechados sonhou que estava dentro do ataúde que levava na cabeça.
Quando fechou os olhos Manuela Lores estava dentro da caixa com os braços sobre o peito, ouvindo os passos de Manuela Lores a cargar com ela mesma. E abriu os olhos.
Era umha mulher forte, Manuela Lores mas tinha sede. E parou a beber na praia de Lanho. Deixou o caixom onde os amieiros e baixou á fonte de água fresca que nascia entre três penas quando baixava a maré, na areia.
E bebeu um grolo longo, Manuela Lores. E logo voltou pór-se debaixo do ataúde, caminhar até a casa da morta, e debaixo das estrelas.
E foi assi e desde aquela Manuela Lores ficou entristecida muito tempo. E durante muito tempo Manuela Lores ficou, como a noite, escurecida.
Pessava-lhe a morte na cabeça.
E foi assi até que um dia foi lavar ao rio com Mencia. E Mencia estava de nove meses e Mencia ali mesmo pariu umha meninha e Manuela Lores cortou-lhe o cordom umbilical com um croio, com umha pedra com gume, com um pelouro. E meteu a roupa numha cesta e a meninha, na outra. E Manuela Lores dixo-lhe a Mencia:
- Deixa-me levar a cesta com a meninha na cabeça.
E era primavera, e um grilo fixo cri cri, e foi assi como recuperou a alegria Manuela Lores.
...
Para Carolina Besada. |
|
|
|
Viagem a Paris. Diário gráfico. |
|

Pois, pois, pois... Aqui vam alguns desenhos dumha viagem a Paris que me levou á Universidade da Sorbona 3 a falar sobre literatura, sadomasoquismo e outras cousas, convidado polo Centro de Estudos Galegos.

Este desenho tirei-no dumha foto de meus pais. Meu pai foi aló nos 60 trabalhar numha fábrica de borracha, peças para avions. De neno cantava-nos cançons em francés. Umha vez vim como chorava escuitando a Georges Moustaki.

A noite antes de saír sempre desenho umha estrela.
Tivem muita sorte, acompanhou-me Celso Fernández Sanmartin. Por isso fazer esta viagem foi como fazer duas ou três viagens ao mesmo tempo.
No autocarro entre Vila de Cruzes e Compostela.
Um rapaz a ler no aeroporto.
E o sal e a pementa.
A gente quando dorme nom se move.
Este é o meu primeiro intento fracasado de desenhar a Celso...
... este saiu bastante parecido, aínda que nom sei quem é.
Marcos Giadás deu-nos casa e calor.
Um dia jantei um bocata de porco vietnamita.
Espertava-me umha pega polas manhás.
Nom, nom choveu. Foi algo que sonhei.
Compartim mesas redondas com Bernardo Atxaga e Isabel García Canet. Na primeira falamos sobre as nossas literaturas; na segunda, sobre a nossa experiéncia como autores traduzidos. Aginha hei pendurar os textos do que lim eu.
Aqui, o bico da Torre desde Les Invalides.
Bernardo Atxaga contou-me que conhecera a José Afonso, -história que contarei outro dia- assi que me pugem a buscar a pegada do Zeca por Paris. Entre outros lugares, acheguei-me á biblioteca do Calouste Gulbenkian, onde pedim esse livro, com o que continuei a escrever umha história do Zeca em Paris...
Aqui, algumhas chaves importantes. A primeira, a que Celso mercou no Mercado das Pulgas.
E aqui Martinha Varela, umha excelente criadora de BD; o polbo que desenhei para o Bar Omadis, na Gout d´Or, onde duas bandeiras galegas; e mais o bilhete da subida á Torre, com a filósofa Maria e mais o poeta de Lalim.
Em Paris conhecim a Sol, que leva anos a estudar os carriços, Troglodites troglodites, e o seu sistema de comunicaçom. A história de Sol e os carriços é maravilhosa. Sabiades que os cantos dos carriços apressentam variantes dialectais? Pois si, algum dia hei falar-vos dos avances da sociobiologia e a comunicaçom animal. Um avance: Castelao equivocava-se: uquase seguro que um cao de Turquia nom ouvea igual que um cam de Dinamarca.
E aqui, outra das grandes histórias desta viagem, a do cherokee Secuoia, o inventor do alfabeto cherokee. Para quem esteja interessado na história e sensibilidade das línguas minorizadas esta história -e este livro fantabuloso ilustrado para crianças- é imprescindível. Um dos melhores livros da minha biblioteca. Paga muito a pena merca-lo por internet.
Este é um agasalho para Carolina, pola história de Manuela, que algum dia contarei com a delicadeza que merece.
E aqui a história da fonte de água natural na praia de Lanho, que nascia dumhas penas entre a areia, e que umha escavadora destruiu para cambia-la por plásticos, urbanizaçom e chiringuito.
Som muitas mais as images e as palavras que vinherom de volta com nós. Espero nom esquecer muito de todo o que nom escrebim ou desenhei. E poder recordar com +s amig+s de Paris os bons momentos que vivemos junt+s. Um abraço a tod+s.
Vemo-nos no caminho!
|
|
|
|
|
|