4 dias, 4 lugares, 4 temas.
Um mes despois de ver luz, o dia do partido de fútebol internacional organizado por Siareir@s Galeg@s entre Galiza e Curdistám, o meu novo livro, "Viagem ao Curdistám para apanhar estrelas", lança-se em Compostela dumha forma pouco habitual: um lançamento múltiple.
Com a segunda ediçom a ponto de saír, o livro "Viagem ao Curdistám" vai ser apressentado favorecendo quatro achegamentos á complexa realidade da maior naçom sem estado do mundo e á própria aventura de autoeditar um livro como este:
1. Na Livraria Ciranda, o dia 6 de fevereiro, com Víctor Freixanes, diretor da editorial Galaxia, e Miguel Penas, responsável da editorial Através, e presidente de AGAL, e mais o autor, numha mesa para falar sobre "Editar livros na Galiza", onde se falará sobre a crise económica ou sobre o NH e o Ñ, entre outras cousas.
2. Na Bar "As duas", o dia 7, com Pepa Baamonde e Rocio Candales, e mais o autor, para falar dum tema sobre o que muita gente tem perguntado: Qual é a situaçom das mulheres no Curdistám?
3. Na Livraria Pedreira, o dia 8, um achegamento ao conflito lingüístico por parte da sociolingüista Olga Patiño e mais o autor, com a participaçom do curdo Mehmet Akgoz.
4 E na Livraria Couceiro, na rua se o tempo acompanha, o sábado 9, ás 13.00, umha atividade lúdico-narrativa, dirigida ás crianças, com a intençom de dar-lhes a conhecer o Curdistám.
Com os maos cheias de agradecimentos, muitos abraços!
Judith achegou-me estas palavras nada mais ler a minha "Viagem ao Curdistám para apanhar estrelas" e despois acedeu generosamente a comparti-las:
"Fai tempo en Bolivia coñecín unha nena ayorea (totobiegosodes) coa que tiven una conexión incrible. Quería facerme un agasallo e díxenlle que me dera unha palabra... a palabra que máis lle gustase da súa lingua e que fose para min...
O seguinte que fixo foi ir a falar coa anciá do seu poboado e chegou traendo esta xoia:
IYABE: ?Coller o mellor de, cada momento, cada lugar, cada cousa e cada persoa?
Un pobo que ten unha palabra para definir algo así ten que ser realmente valioso. Quería compartila contigo.
Facía tempo que non me lembraba... Debería tela moito máis presente. Onte pola noite devorei o teu último libro e volveu...
SPAS!!!!
Gostei moitísimo del e sei que nas seguintes lecturas tamén será así. Fíxome rir, chorar e removeume..."
O passado 29 de dezembro, na festa do encontro das seleçons nacionais de fútebol Galiza-Curdistám, organizado por Siareir@s Galeg@s, apareceu o meu último livro: Viagem ao Curdistám para apanhar estrelas.
Estas som as primeiras palavras do livro: ?Os inuítes dizem que o único instrumento que se afia com o uso é a língua?? E estas som as últimas palavras do livro: ?Quando tu falas a língua do teu povo, o teu povo medra, porque o teu povo vive nas tuas palavras.?
Viagem ao Curdistám é o relato dumha aventura ao coraçom dum dos conflitos internacionais mais silenciados, o do povo curdo. Mas nom é só isso.
É umha viagem por um caminho no que encontramos um taxidermista de animais de granxa, estrelas ao alcance da mao, soldados de mal humor, um ladrom de colheres, campos de petróleo e campos de algodom, um gigante e muita gente que luita dia a dia pola independência, o amor, a vida e essas cousas cotiás.
Viagem ao Curdistám é um livro que nom foi escrito para ser editado. De verdade. É o diario dumha viagem persoal que, apesar disso, tem muito de viagem coletiva.
O livro é umha autoediçom e tem entre as suas finalidades recadar fondos para um intercámbio cultural que se está a realizar entre as crianças da Semente de Compostela e umha escola de Amed, capital do Curdistám, no estado turco.
A autoediçom e a distribuiçom pola rede social -e virtual- tem como objetivo que o livro -com desenhos a cor, com 3 capas de qualidade, com umha cuidada ediçom editorial...- tenha um preço mais popular. 10 euros, por certo.
Porque cremos na autoorganizaçom e na interrelaçom das persoas para criar, mover, transformar, compartir... bens de todo tipo, tamém culturais.
Viagem ao Curdistám é um diário desenhado e escrito de caminho e agora aparece como um ser imprevisto, um objeto precioso, umha faísca de cores, um livrinho que naceu da curiosidade, para ser compartido por quem goste do imprevisto, da beleza e da curiosidade. Mas nom é só isso.
Viagem ao Curdistám é umha reflexom sobre a vitalidade das línguas em situaçom de conflito político. Mas nom só.
Viagem ao Curdistám é umha viagem de descoberta do nosso próprio país, Galiza, a mais de 5000 km de distáncia.
Quando acabes de ler Viagem ao Curdistám gostaria de perguntar-che: Quanta ficçom há neste livro?
Este livro -que foi pensado, editado e impreso em pouco mais dum mes- nom seria como é sem a aportaçom de Laura Calvinho que, aparecendo de entre a rede social virtual, se ofereceu a fazer o desenho editorial.
Ela mesmo descreve o seu trabalho, que conseguiu converter este livro num objeto precioso:
"Para o desenho editorial optou-se por um formato apaisado que respeitasse a forma original do caderno no que se figerom as ilustraçons e que se adapta á primeira leitura da história através das images.
Das cubertas do livro figerom-se três versions em três cores diferentes inspiradas nas utilizadas na elaboraçom de tecidos artesanais como os que se mercarom durante a viagem que narra o livro. O papel reciclado e as texturas naturais adaptam-se ao conceito de caderno de viagem que está na origem da obra e respeitam o ambiente"
Muitos dos desenhos de Viagem ao Curdistám já forom publicados neste mesmo blogue, ou aqui. Agora o livro, além dos desenhos, contém o diário escrito e mais outros três textos relacionados com esta viagem.
O livro quer ser um fio mais de uniom e irmandade entre o Curdistám e a Galiza, um fio de uniom entra o nosso povo e os povos do mundo.
Mais informaçom sobre o encontro Galiza-Curdistám, acçom do movimento social de base galego e detonante da ediçom deste livro, realizado por gzvideos.info:
...
O livro está á venda, nesta altura, nos seguintes pontos de venda:
Forom aparecendo pouco a pouco nos telhados da minha vila e agora podo contar 23 desde a janela do meu cuarto: mouchos, avelaionas e curuxas de louça. 23 mouchos de porcelana com a olhada opaca.
Erguem-se inmóveis entre as antenas, sobre as telhas e as cheminés, com os seus olhos grandes cheios de siléncio.
Pugerom-nos para as pombas e as gaivotas fugirem deles, para manter limpas de excrementos as terraças, os carros, as janelas, a roupa tendida e, em fim, a vida.
Os 23 mouchos de porcelana de olhada opaca no teso dos telhados vigiam a vila desde o alto e lograrom asombrar os paxaros vivos.
Numha casa baixa, -minha mai dixo-me que ali vivia um professor de biologia-, o moucho é de louça de Sargadelos.
Houvo um tempo no que muitos dos comércios da vila tinham na montra mouchos de porcelana. Ter um moucho no telhado converteu-se numha espécie de necessidade. Minha mai tamém pensou em mercar um, como toda a gente.
- Podes mercar um dálmata, mamá, e ponhe-lo ao lado das antenas.
Mas as olhadas baleiras e presas dos mouchos de louça, de ali a um tempo, forom descubertas polo instinto dos paxaros livres. E finalmente, pouco a pouco, as pombas e as gaivotas regressarom. E começarom a cubrir com os seus excrementos os 23 mouchos de porcelana.
Agora ás vezes as gaivotas e as pombas pousam sobre a cabeça dalgumha das aves que a gente fora mercando na tenda dos chineses e descansam sobre o depredador sem vida.
Mouchos com pombas na cabeça.
Hoje estava a olhar os mouchos desde a janela quando sucedeu algo asombroso e irreal, no lusco-fusco: Um dos mouchos dum telhado á minha esquerda de súbito moveu-se e, numha pulsaçom rápida e violenta, caçou umha pomba branca.
Com a pomba nas poutas ergueu-se e, a voar silencioso e com a sua olhada brilhante, desapareceu cara á montanha.
1. Tu es umha persoa e cada umha das tuas alunas e alunos som persoas. Sodes, pois, persoas. Sodes iguais...e diferentes. Tu tes mais anos e pode que leras mais livros que muit@s alun@s..., ademais tu es @ profe, e cobras por isso. Sodes iguais e sodes diferentes mas este curso tedes algo em comum, entre outras cousas: a língua galega.
2. Um dos teus obxectivos principais será que pareça que os 50 minutos de cada aula durem muito menos. Aprender goçando. A formaçom em dinamizaçom de grupos é fundamental para qualquer profe. @s profes guais formarom-se, fixerom cursos e lerom livros de animaçom sociocultural. A língua galega necesita profes facilitadores, dinamizadores, animadores que facilitem a adquisiçom, dinamicem a aprendizagem e animem ao uso. @s profes list@s sabem que adquirir destrezas em dinamizaçom de grupos resolve muitos problemas.
3. O trabalho com actitudes, valores e normas sociolingüísticas é fundamentalíssimo! Pode ser mais importante que um aluno ou aluna reconheça e supere um prejuíço que que escreva um exame sem faltas de ortografia, porque um prejuíço pode fazer que um aluno deixe de escrever em galego quando já nom tenha que fazer exames.
Neste momento histórico é prioritário que o alunado seja sensível e consciente do conflito lingüístico e vaia construíndo umha perspectiva crítica com a realidade social, da que forma parte. Que sejam menores de idade nom significa que nom sejam cidadás. A primeira liçom: som as persoas as que prestígiam ou desprestígiam umha língua, nom som as línguas as que dam mais ou menos prestígio ás persoas.
4. A gente nova mais que ser parte do problema actual da língua é parte da soluçom.
5. O preço do azúcar, o sexismo, usar a bicicleta, as leis contra o tabaco, a destruçom da natureza, a sanidade pública, a maioria de idade, a língua... todo é política. Política é qualquer cousa que nos afeta como cidadáns e cidadás que formamos parte dumha sociedade. Ninguém é apolítico porque vivemos em sociedade. Outra cousa é ser partidista ou apartidista. E estamos a falar da área de língua e sociedade. Por isso é importante, por exemplo, debater na aula: Que importáncia tivo e tem o Xabarim Club? Porquê nom há um programa de música rock na TVG? Quem nom pode ligar em galego?
6. É importante botar-lhe um olho a algum livro de psicologia social. A língua é um factor vital de identidade persoal e de socializaçom. Há algumha gente inadaptada social e culturalmente por questiom de língua que mesmo está em contra do nosso idioma. Facilitemos que o nosso alunado -fale mais em castelám ou mais em galego, só em galego ou sempre em castelám- participe da dimensiom socializadora da língua sentindo-se parte da comunidade d@s galego-falantes. Facilitemos que o nosso alunado enriqueza a sua identidade persoal em galego.
7. Se lhes pedes respeito, deves respeitar, se lhes pedes criatividade deves ser criativ@, se lhes pedes trabalho, deves ser trabalhador/@, se lhes pedes participaçom, deves ser participativ@, se lhes pedes comunicaçom, deves ser comunicativ@, se lhes pedes que aprendam, deves aprender com el@s, se lhes pedes que cámbiem, deves cambiar tu tamém, se queres que confiem em ti, deves confiar nel@s, etc.
8. Se pensas que o que fazes nom cámbia o mundo, @ alunado nom aprenderá de ti a cambiar as cousas. Nem sequera um b por um v. Se pensas que o que fazes nom cámbia a situaçom da nossa língua, o teu alunado nom aprenderá de ti a mudar a situaçom da nossa língua. Recorda que o pesimismo paralisa e destrue. Nom é educativo. As normas sociais ?invisíveis, tácitas- ditam o que é normal ou nom é normal. Mas essas normas podem cambiar. A forma em que cada profe dá as aulas pode perpetuar normas sociais injustas ou pode ajudar a cambia-las.
9. Os livros de texto podem servir de ajuda. Mas os melhores modelos lingüísticos estám nas ruas, na tele, nos livros, nos dicionários, nos jornais, nas etiquetas dos alimentos, nas guias telefónicas, nos cds, nos dvds, em internet, nas nossas conversas. O melhor material é que elabora cada um/ha de nós.
10. Deves levar a escola ás ruas e fazer entrar a sociedade na escola. A língua vive na sociedade. A aula nom pode ser umha borbulha. Sae da aula com os teus alunos e alunas. Sae da aula e vivide a língua com a gente que a fala ou a despreça, com a gente que a aprende ou a ignora, com a gente que a construe ou a destrue. Há milheiros e milheiros de persoas que inzam de vitalidade a nossa língua na sua vida diária. A exposiçom a modelos reais é fundamental.
Anima-te. Sempre há dias piores e dias melhores. Lembra os bons momentos e colhe força porque há muito trabalhinho por diante e a gente nova necessita-te.
Estavamos a jantar no Refuge du Passe a uns metros da Université Sorbonne e, logo de que nos falasse da sua primeira viagem á Galiza, perguntei-lhe a Bernardo Atxaga, o escritor basco: E a José Afonso? naquela altura chegaches a ver cantar a José Afonso?Atxaga sorriu e dixo: José Afonso durmiu na minha casa duas noites. Que? Si, deveu de ser no 77 ou 78? quando foi a Bilbao, cantar num concerto com Oskorri. Foi numha sala ao final da rua Iturribide? Tenho a sua discografia enteira. E Bernardo Atxaga botou-se a cantar A garrafa vacia de Manuel Maria!
Celso Fernández e mais eu foramos a Paris convidados por Martinha Varela, do Centro de Estudos Galegos. Eu compartira essa manhá, com Bernardo Atxaga e a valenciana Isabel Garcia Canet, umha mesa redonda sobre a literatura das línguas minorizadas no estado espanhol. E Celso ao dia seguinte tinha duas sesions de conta-contos. Tes que escrever um conto que se chame O Paxaro Quase-Quase, dixo-me despois da sobremesa. E o Corvo Talvez.
Com Marcos Giadás, que nos acolheu na sua casa de Alfortville, um dos bairros das banlieues que arderom de raiba no 2010, descobrim em internet que no 1969 o Zeca participou no concerto Le chançon de combat portugaise, na sala da Mutualité de Paris. E que no 81 cantou no Théâtre de la Ville.
Assi que cambiei de plans para aqueles dias, adeus Pompidou, e a sexta, 13 de abril de 2012, comecei a procurar o rasto de José Afonso em Paris. A primeira parada foi perto do Pantheon, na Librairie Portugaise- Brasilienne. Ali merquei o livro Vingt chansons de mai, traduzidas por Dominique Stoenesco, da Association Memória Viva de Paris . E logo de comer um bocata de porco vietnamita ao pé do Sena, entrei no metro para achegar-me, no Boulevard la Tour Maubourg, ao Centro Calouste-Gulbenkian e ali?
Ali achei o rosto da utopia. O rosto da utopia foi o livro que me trouxo amavelmente a bibliotecária da Gulbenkian, escrito por José A. Salvador em 1994, com referéncia 929 Afonso, ETN, 340, Sociologia.
Molhei os dedos nos lábios para passar as páginas. De entrada descobrim que o Zeca escreveu, nos seus tempos no Colégio Mangualde, em Setubal, umha tese sobre Sartre e que um tal Padre Miguel lhe dixo: ?O senhor pelo que li apresenta inequívocos indícios de poeira mental?.
Molhei outra vez os dedos e ao passar a página achei, sorprendendo-me, a foto do cartaz do concerto de 1981 em Paris, colado no metro. Tirei-lhe três fotos.
No meu terceiro dia em Paris acheguei-me ao mercado de Poisy, um dos bairros de forte inmigraçom portuguesa, e entrei no bar Coímbra. Celso achegou-se ao Marché des Puces de Clignancourt, olhar fotos e postais antigas.
Faltava-me o final da história e havia que intenta-lo. Assi que quando aquela mulher, olhos negros, sesenta anos, me serviu a ginginha, eu falei-lhe: Olá, bom dia, venho da Galiza, de Santiago de Compostela, e estou a procurar informaçom sobre a presença do Zeca Afonso em Paris? Sabe quem me poderia ajudar?
Ela dixo simplesmente: Eu. E foi-se embora. E regresou com mais um copo e serviu-se ginginha e dixo: Em 1981 veu cantar ao Théâtre de la Ville, e despois do concerto eu esperei por ele. Queria dar-lhe dois beijinhos, eu adorava ao Zeca. Havia muita gente. Ele tirou um cigarro, levou-no á boca, mas nom tinha lume. Eu, ligeira, prendim um fósforo e protegendo-o assi, com esta mao, acheguei-lho a arder. E assi foi? Eu dei-lhe lume a José Afonso, dixo orgulhosa aquela mulher, a sorrir com muito ar no peito.
Tenho-o ca, dixo, o fósforo. Vou por ele. E foi-se e voltou com um envelope de papel amarelecido, quase transparente. A mulher que lhe deu lume a José Afonso em Paris abriu o envelope, tirou o fósforo, mostrou-mo termando del com o índice e o polegar, pousou-no em siléncio na mesa, dentro dum dos olhos da madeira, e eu tirei-lhe umha foto.
Parece que aínda arde?, dixo mui em baixinho.
Chama-se Patrícia Maria Verde Vilar. Antes de despedir-me perguntei-lhe: De que cançom do Zeca gosta mais? E ela dixo: Enquanto há força.
E eu saím a asubiar? Seremos muitos, seremos alguém.
...
Oublicado na revista do festival Terra da Fraternidade, em homenagem ao Zeca Afonso
Escrevo Quero-te cem vezes hoje
cem vezes escrevo Quero-te porque te quero
e escrevo Quero-te porque te sinto dentro
e fora das palavras e no siléncio.
Na minha língua escrevo Quero-te
na tua língua, nossa.
Na palma de minha mao escrevo Quero-te
e escrevo Quero-te no teu ombro quando dormes
e Quero-tes pequenos nas etiquetas
da roupa que levas hoje.
E porque quando escrevo Quero-te já é passado
hoje escrevo tamém Quero-te no futuro,
e escrevo Quero-te com sprays nas ruas
polas que passas sempre ou nom passas nunca,
e escrevo Quero-te dentro da tua sombra
e dos teus zapatos e dos teus paxaros.
Escrevo Quero-te em código morse
com a ponta da língua onde me pidas
-.- . .-. ---- - .
Um quero-te como um mamut de grande,
pequeno como umha constelaçom de sete letras,
longo como um arró entre dous vales
e, como a imperfecçom, perfecto.
Escrevo Quero-te na minha língua amante
que te lambe nos sonhos
que ás vezes se volvem realidade.
E escrevo Quero-te porque nom tenho medo,
e para cambiar o mundo escrevo Quero-te
Escrevo Quero-te nos lugares comuns
e nos segredos.
E escrevo Quero-che tamém
palatalmente.
Escrevo Quero-te no teu paráguas violeta,
e onde escrevo Quero-te nace o arco da velha.
Na lista da compra escrevo Quero-te
entre a palavra laranjas e a palavra tesoiras,
e escrevo Quero-te dentro dumha botelha.
Somos muita gente hoje
a escrever Quero-tes no país dos Quero-tes,
milheiros de Quero-tes na nossa língua
escritos na pel, nas árvores ou nas paredes.
Em cada Quero-te
que escreve alguém na minha língua
está o meu Quero-te
alá onde esteja.
E porque um Quero-te é umha palavra que brilha
escrevo Quero-te,
tamém eu com toda a gente
que hoje escrevemos
milhons de Quero-tes nas cinco mil línguas do planeta cada dia.
Era umha mulher forte Manuela Lores.
Erguia 30 quilos de berberechos sobre a cabeça e levava-os a vender 17 quilómetros de Samieira a Pontevedra, 17 quilómetros.
O dia que morreu a mai de Mencia era noite.
Morrera a mai de Mencia e havia que trazer um ataúde de Pontevedra. Nom havia dinheiro para o porte nem animais de carga nas casas vizinhas.
- Vou eu, dixo Manuela Lores.
E saiu de noite polo caminho da noite.
Eram 17 quilómetros de lua grande e chegou á casa do carpinteiro e petou na porta de noite e abrirom a casa das caixas dos mortos.
- Quero levar um ataúde, dixo Manuela Lores.
- E de que preço?, com sono perguntou o carpinteiro.
- O mais barato.
- E de que medida?
E Manuela Lores nom sabia.
- Para umha morta como eu som, do meu tamanho.
- Proba este de aqui, deita-te dentro.
E Manuela Lores entrou na caixa cruçando os braços sobre o peito.
Pagou e botou a caixa á cabeça, Manuela Lores, encima do molido. Aos oito anos começara a levar sobre a cabeça feixes de erva e cestos de roupa e terrons da leira e grao para o muinho e argaço e pedras e muitas outras cousas.
E começou a caminhar Manuela Lores com um ataúde na cabeça os 17 quilómetros de volta a Samieira á luz da lua. 17 quilómetros.
Olhava para adiante Manuela Lores, e ás vezes para abaixo e num passo quase pisa um grilo. Pisou com o calcanhar mas deixou o resto do pé no ar, ergueu o pé e o grilo fixo cri, fixo cri cri e Manuela Lores sorriu e seguiu a caminhar.
Olhava a sua sombra á luz da lua e sobre a sua sombra, a sombra do caixom da morta.
E umha vez fecharom-se-lhe os olhos e avançou quase durmida. Pessava-lhe mais o sono que a caixa de madeira. E com os olhos fechados sonhou que estava dentro do ataúde que levava na cabeça.
Quando fechou os olhos Manuela Lores estava dentro da caixa com os braços sobre o peito, ouvindo os passos de Manuela Lores a cargar com ela mesma. E abriu os olhos.
Era umha mulher forte, Manuela Lores mas tinha sede. E parou a beber na praia de Lanho. Deixou o caixom onde os amieiros e baixou á fonte de água fresca que nascia entre três penas quando baixava a maré, na areia.
E bebeu um grolo longo, Manuela Lores. E logo voltou pór-se debaixo do ataúde, caminhar até a casa da morta, e debaixo das estrelas.
E foi assi e desde aquela Manuela Lores ficou entristecida muito tempo. E durante muito tempo Manuela Lores ficou, como a noite, escurecida.
Pessava-lhe a morte na cabeça.
E foi assi até que um dia foi lavar ao rio com Mencia. E Mencia estava de nove meses e Mencia ali mesmo pariu umha meninha e Manuela Lores cortou-lhe o cordom umbilical com um croio, com umha pedra com gume, com um pelouro. E meteu a roupa numha cesta e a meninha, na outra. E Manuela Lores dixo-lhe a Mencia:
- Deixa-me levar a cesta com a meninha na cabeça.
E era primavera, e um grilo fixo cri cri, e foi assi como recuperou a alegria Manuela Lores.
Pois, pois, pois... Aqui vam alguns desenhos dumha viagem a Paris que me levou á Universidade da Sorbona 3 a falar sobre literatura, sadomasoquismo e outras cousas, convidado polo Centro de Estudos Galegos.
Este desenho tirei-no dumha foto de meus pais. Meu pai foi aló nos 60 trabalhar numha fábrica de borracha, peças para avions. De neno cantava-nos cançons em francés. Umha vez vim como chorava escuitando a Georges Moustaki.
A noite antes de saír sempre desenho umha estrela.
Tivem muita sorte, acompanhou-me Celso Fernández Sanmartin. Por isso fazer esta viagem foi como fazer duas ou três viagens ao mesmo tempo.
No autocarro entre Vila de Cruzes e Compostela.
Um rapaz a ler no aeroporto.
E o sal e a pementa.
A gente quando dorme nom se move.
Este é o meu primeiro intento fracasado de desenhar a Celso...
... este saiu bastante parecido, aínda que nom sei quem é.
Marcos Giadás deu-nos casa e calor.
Um dia jantei um bocata de porco vietnamita.
Espertava-me umha pega polas manhás.
Nom, nom choveu. Foi algo que sonhei.
Compartim mesas redondas com Bernardo Atxaga e Isabel García Canet. Na primeira falamos sobre as nossas literaturas; na segunda, sobre a nossa experiéncia como autores traduzidos. Aginha hei pendurar os textos do que lim eu.
Aqui, o bico da Torre desde Les Invalides.
Bernardo Atxaga contou-me que conhecera a José Afonso, -história que contarei outro dia- assi que me pugem a buscar a pegada do Zeca por Paris. Entre outros lugares, acheguei-me á biblioteca do Calouste Gulbenkian, onde pedim esse livro, com o que continuei a escrever umha história do Zeca em Paris...
Aqui, algumhas chaves importantes. A primeira, a que Celso mercou no Mercado das Pulgas.
E aqui Martinha Varela, umha excelente criadora de BD; o polbo que desenhei para o Bar Omadis, na Gout d´Or, onde duas bandeiras galegas; e mais o bilhete da subida á Torre, com a filósofa Maria e mais o poeta de Lalim.
Em Paris conhecim a Sol, que leva anos a estudar os carriços, Troglodites troglodites, e o seu sistema de comunicaçom. A história de Sol e os carriços é maravilhosa. Sabiades que os cantos dos carriços apressentam variantes dialectais? Pois si, algum dia hei falar-vos dos avances da sociobiologia e a comunicaçom animal. Um avance: Castelao equivocava-se: uquase seguro que um cao de Turquia nom ouvea igual que um cam de Dinamarca.
E aqui, outra das grandes histórias desta viagem, a do cherokee Secuoia, o inventor do alfabeto cherokee. Para quem esteja interessado na história e sensibilidade das línguas minorizadas esta história -e este livro fantabuloso ilustrado para crianças- é imprescindível. Um dos melhores livros da minha biblioteca. Paga muito a pena merca-lo por internet.
Este é um agasalho para Carolina, pola história de Manuela, que algum dia contarei com a delicadeza que merece.
E aqui a história da fonte de água natural na praia de Lanho, que nascia dumhas penas entre a areia, e que umha escavadora destruiu para cambia-la por plásticos, urbanizaçom e chiringuito.
Som muitas mais as images e as palavras que vinherom de volta com nós. Espero nom esquecer muito de todo o que nom escrebim ou desenhei. E poder recordar com +s amig+s de Paris os bons momentos que vivemos junt+s. Um abraço a tod+s.
Na web da Coordenadora de Equipos de Normalización acaba-se de publicar um trabalho de X.M. Moreno sobre sociolingüística. É muito mais que umha guia de leitura de Made in Galiza: umha boa ferramenta para achegar-se á dimensiom socio-cultural das línguas.
´
A mim pareceu-me mui interessante!
Um filme impresionante que, com sorte, chegará á Galiza!: Gartxot
Um filme desenhado por Asisko Urmeneta.
Sobre a defensa da identidade e a resisténcia lingüística.
Brutal, inocente, criativo.
Animaçom Made in Euskal Herria.
O proceso de criaçom e difusom do filme favoreceu que a comarca do heroe -Gartxot-, em Iparralde, esteja a dinamizar-se social e culturalmente com o impulso dum movimento cidadám euskaldum.
Gatxot, um heroe medieval basco cantado por Benito Lertxundi num dos seus temas mais populares, passou ás cores e sons dos desenhos animados nesta curtametragem que agora está em proceso de se converter em longametragem.
Com toda seguridade, nestes tempos de internacionalismo e solidariedade entre os povos e as línguas golpeadas pola história, Gartxot será um simbolo da resisténcia para as naçons sem estado do mundo, para os movimentos de liberaçom.
Sobre a defensa da identidade e a resisténcia lingüística.
Brutal, inocente, criativo.
Animaçom Made in Euskal Herria.
O proceso de criaçom e difusom do filme favoreceu que a comarca do heroe -Gartxot-, em Iparralde, esteja a dinamizar-se social e culturalmente com o impulso dum movimento cidadám euskaldum.
Gatxot, um heroe medieval basco cantado por Benito Lertxundi num dos seus temas mais populares, passou ás cores e sons dos desenhos animados nesta curtametragem que agora está em proceso de se converter em longametragem.
Com toda seguridade, nestes tempos de internacionalismo e solidariedade entre os povos e as línguas golpeadas pola história, Gartxot será um simbolo da resisténcia para as naçons sem estado do mundo, para os movimentos de liberaçom.
I Encontro de Escritor@s da Lusofonia. O objectivo era interessante.: "Escritor@s, músic@s, criadore@s? pessoas de diferentes âmbitos da cultura e das artes a reflectir sobre a realidade da lusofonia (tentando fugir dos tópicos), sobre as novas tecnologias e a sua relação com a literatura e as artes em geral, e sobre os movimentos do chamado Altermundo (ecologismo, empreendedorismo, antibelicismo, feminismo, dec...rescimento?) e a relação/situação das artes no mundo contemporâneo."
E a aventura em Monçao, no Palácio da Brejoeira, foi intensa, emocionante e mui formativa, com momentos de verdadeira revelaçom.
Nos três dias de convívio a nossa relaçom com a imaginaçom e a realidade, com o mundo, mudou. Era inevitável.
Os pés de Aline.
Aline Frazao é muito..., Aline é muito mais!
Quando Aline canta
a gente sonha.
Quem nom conheça a literatura de Agualusa já pode ir abrindo qualquer dos seus livros. Eu recomendo o último romance: "Milagrário pessoal", umha viagem na procura das palavras.
Agualusa nom é só um dos grandes escritores da nossa língua no mundo tamém é um dos grandes escritores do mundo em qualquer língua.
Agualusa tamém acredita nisso de que as palavras cámbiam o mundo. Assi que coincidimos. Ademais, mostrou-se mui interessado pola situaçom sociolingüística da Galiza e falou-nos da situaçom lingüística em Angola.
Tony Tcheka, desde a Guiné-Bissau:
POVO ADORMECIDO
Há chuvas
que o meu povo não canta
Há chuvas
que o meu povo não ri
Perdeu a alma
na parede alta do macaréu
Fala calado
e canta magoado
(..)
A Coca de Monçao. Um dragom no caminho.
O autor de Origem certa do farol de Alexandria e outros contos, Guisán Seixas, e o seu sombreiro, olhando um filme na Casa das Artes.
Um desenho com vinho, café e rotulador de Mito Elias, de Cabo Verde, que leva o bicho da poesia dentro mas tamém gosta de compartir. Aqui, um minuto da sua performance no I Encontro de Escritor@s da Lusofonia:
Despois de cinco desenhos, este é o que mais se parece a José Carlos Vasconcelos, que falou oracularmente sobre lusofonias, acordos ortográficos e outras cousas.
Chegam novas traduçons de relatos de Made in Galiza polo caminho que vai e vem de Eslováquia!
Da mao de Vlasta Moman e o blog Vlastovicka, já podemos ler em eslovaco a traduçom dos relatos O Home que Agardaba que lle Dixesen o que Tiña que Facer, A Muller que Vivía no Futuro e Instrucciones para Empezar a Hablar Gallego.
Aqui estám as nossas palavras -as tuas, as minhas, as nossas- convertidas em palavras eslovacas