Isto sucedeu-lhe a Paula Rios, umha colega, numha viagem a Calcuta. Pois si.
Resulta que Paula entrou num táxi amarelo e aproveitou para telefonar á casa.
- Sim, sim, a cidade é impressionante.
- ...
- Isto é umha formigueiro, as ruas estám ateigadas de gente, si...
- ...
- As cores, as cores som maravilhosas, estou a descobrer cores que nom conhecia!
- ...
- Venha, um abraço!
E justo no momento em que Paula desligou o telefone o taxista freou o táxi em seco, nhiiiiiiii, e olhou para atrás, com os olhos mui abertos e dixo-lhe a Paula:
- Havia anos que nom escoitava falar na minha língua! Desculpe, estou emocionado...
Si, o home, o taxista de Calcutá, contou-me Paula, estava emocionado, brilhavam-lhe os olhos como se acabasse de encontrar alguém que nom via em muitos anos.
E o taxista de Calcutá contou-lhe a sua história: nascera em Goa, a antiga colónia portuguesa na Índia. E aprendera a falar em portugués. Mas de novo deixou Goa e chegou a Calcutá, trabalhar.
- Havia anos que nom escoitava falar a minha língua!, repetiu. E perguntou: A senhora de onde é?
Pois, dixo Paula, sorrindo. E começou a explicar-lho:
- Qual é o teu animal preferido?
- A girafa come fotos.
- E onde está?
- Nom sei.
- E que fotos come?
- Aquela foto.
- E onde está?
- Aqui, com as pitas e os gatos.
- E onde vive?
- Aqui. No monte.
- Por que come fotos?
- Porque é um animal que come fotos, nada mais.
- ...
- Nom come nenas.
-...
- Tamém há um lobo que come cojins.
- Por que come cojins?
- Tamém come mantas.
- Onde vive?
- Em África.
- A girafa come fotos como entrou na casa?
- Pola porta.
- Fala?
- Si.
- E que di?
- Di: Como te chamas?
- E que fotos lhe gusta mais?
- Aquela na que estás ti.
- ...
- Tamém come lápis.
- ...
- Tamém come livros.
- Que livros lhe gustam mais?
- Os que tenhem fotos.
- ...
- Sssshhh, nom fales. Fala baixinho.
- Por que?
- Porque está aquela vaca durmindo.
- Quando podemos falar normalmente?
- Quando esperte a vaca.
- ...
- A girafa caga fotos.
- E nada mais?
- Nada mais. Come fotos e caga fotos.
As mulheres apanharom os cestos e saírom à noite em silêncio. Havia doce mulheres. Poderia dizer-che os seus nomes. Todos os nomes levavam a letra A.
Havia livros, revistas, jornais, e muitos papeis. Eu escoitei que havia que esconde-los porque em todos aparecia escrita a palavra liberdade.
Nom podiam sacar um carro e carrega-lo porque nom era seguro. O fungar do carro! Tu escoitaches algumha vez um carro fungar?
Pois a biblioteca havia que saca-la de ali em segredo. Havia que faze-la desaparecer.
E as mulheres eram silenciosas.
Pugerom panos nas cabeças, os cestos sobre os panos e nos cestos, livros. Um encima de outro. Acordo-me bem. As colunas de livros sobre as cabeças das mulheres.
Eu era um meninho e lembro-as com as colunas de livros, em fila, atravessando a noite. Era como um sonho. Doce mulhees caminhando em silêncio com cestos de livros na cabeça. Nom sei como podiam manter o equilíbrio, os livros sobre as mulheres. E as mulheres debaixo dos livros.
Trasladarom os livros durante toda a noite. Figerom muitas viagens, as doce mulheres com colunas de livros na cabeça. Os livros erguiam-se cara ao céu.
Ninguém mais que elas soubo nunca onde enterraram a biblioteca. A biblioteca que levaram na cabeça.
Eu, que era mui meninha, aquele ano quigem aprender a levar cestos na cabeça e a ler.
...
No 45 conhecim um polaco que tinha um papagaio na casa. Era um polaco que levava poucos anos aqui. Um dia acabamos a noite na sua casa, tinha um whisky... mmm, e ali conhecim o seu papagaio.
- Nom há muitos polacos na Costa Oeste, -dixo-me-, e com o paxaro podo falar em polaco.
Pareceu-me umha ideia fantástica! Assi que figem o mesmo. Olha: Esta da foto é Rosalia. Ai! Rosalia... Por certo, sabes quanto pode chegar a viver um papagaio?
- Nom sei... vinte, trinta anos?
- Rosalia passou comigo cincuenta anos. Cincuenta anos juntos, eh, companheira! Morreu em 1995. Essa foto é de... deve ser de 1980, mais ou menos. Durante esses cincuenta anos puidem falar galego todos os dias... Certo é que Rosalia, aínda que era mui paroleira, nom tinha muita conversa... Repetia-se muito! Mas, polo menos, eu tinha com quem falar quando acordava pola manhá ou quando me deitava á noite...
Milo ficou olhando o céu com um sorriso alegre e encantador, quase infantil. Dixem-lhe:
- Pois, Milo, esta história lembra-me a do papagaio de Humboldt... Conhece-la?
- Humboldt, o naturalista?
- Ahá... É que eu, á parte de poeta, som-che professor de língua e um dia preparando umhas aulas achei num livro esta história que... - E contei-lhe.
Resulta que numha das suas expediçons o cientista Alexander von Humboldt adentrou-se nas ribeiras do Orinoco, no que hoje seria Venezuela. Num daqueles povoados Humboldt ficou encantado com os papagaios domésticos dos índios, de penas rechamantes, púrpuras, azuis, amarelas... Num momento, a Humboldt mostrarom-lhe um papagaio falador. Era um paxaro velho. Que di?, perguntou Humboldt. Mas naquel povoado ninguém comprendia as palavras do paxaro. Quando Humboldt perguntou por que?, por que ninguem o comprende? dixerom-lhe que o papagaio falava outra língua, a língua dos atures, um povo que fora exterminado numha das últimas guerras. O papagaio era o último falante daquela língua. E Humboldt foi dos últimos em escoita-la, a saír do peteiro dum paxaro.
....
O lapis do taberneiro, 2011
Apresentaçom: 27 de dezembro de 2011. Café Bar 13, Rua de Santa Clara, Compostela.
Na web da Coordenadora de Equipos de Normalización acaba-se de publicar um trabalho de X.M. Moreno sobre sociolingüística. É muito mais que umha guia de leitura de Made in Galiza: umha boa ferramenta para achegar-se á dimensiom socio-cultural das línguas.
´
A mim pareceu-me mui interessante!
Um filme impresionante que, com sorte, chegará á Galiza!: Gartxot
Um filme desenhado por Asisko Urmeneta.
Sobre a defensa da identidade e a resisténcia lingüística.
Brutal, inocente, criativo.
Animaçom Made in Euskal Herria.
O proceso de criaçom e difusom do filme favoreceu que a comarca do heroe -Gartxot-, em Iparralde, esteja a dinamizar-se social e culturalmente com o impulso dum movimento cidadám euskaldum.
Gatxot, um heroe medieval basco cantado por Benito Lertxundi num dos seus temas mais populares, passou ás cores e sons dos desenhos animados nesta curtametragem que agora está em proceso de se converter em longametragem.
Com toda seguridade, nestes tempos de internacionalismo e solidariedade entre os povos e as línguas golpeadas pola história, Gartxot será um simbolo da resisténcia para as naçons sem estado do mundo, para os movimentos de liberaçom.
Este texto é umha resposta á pergunta que foi lançada numha mesa redonda no Foro Social de Ferrol: Que há de novo no 15-M?
Umha das cousas novas: a relaçom do movimento social com a língua galega.
Um fragmento do texto:
Um dos discursos mais visíveis na rede foi o que se deu dentro desse sector do que podemos denominar como ?galeguismo?. Dentro do ?galeguismo? houbo um sector que mantivo umha actitude de rechazo á participaçom no movimento: ?Eu nom participo porque o movimento nom se expresa em galego. É espanholista.?
Assi respondia alguém a esta actitude desde o twenti: ?Hay un tipo que no se limpia el culo desde hace tres años porque el papel higiénico no viene etiquetado en gallego?
Sobre a defensa da identidade e a resisténcia lingüística.
Brutal, inocente, criativo.
Animaçom Made in Euskal Herria.
O proceso de criaçom e difusom do filme favoreceu que a comarca do heroe -Gartxot-, em Iparralde, esteja a dinamizar-se social e culturalmente com o impulso dum movimento cidadám euskaldum.
Gatxot, um heroe medieval basco cantado por Benito Lertxundi num dos seus temas mais populares, passou ás cores e sons dos desenhos animados nesta curtametragem que agora está em proceso de se converter em longametragem.
Com toda seguridade, nestes tempos de internacionalismo e solidariedade entre os povos e as línguas golpeadas pola história, Gartxot será um simbolo da resisténcia para as naçons sem estado do mundo, para os movimentos de liberaçom.
I Encontro de Escritor@s da Lusofonia. O objectivo era interessante.: "Escritor@s, músic@s, criadore@s? pessoas de diferentes âmbitos da cultura e das artes a reflectir sobre a realidade da lusofonia (tentando fugir dos tópicos), sobre as novas tecnologias e a sua relação com a literatura e as artes em geral, e sobre os movimentos do chamado Altermundo (ecologismo, empreendedorismo, antibelicismo, feminismo, dec...rescimento?) e a relação/situação das artes no mundo contemporâneo."
E a aventura em Monçao, no Palácio da Brejoeira, foi intensa, emocionante e mui formativa, com momentos de verdadeira revelaçom.
Nos três dias de convívio a nossa relaçom com a imaginaçom e a realidade, com o mundo, mudou. Era inevitável.
Os pés de Aline.
Aline Frazao é muito..., Aline é muito mais!
Quando Aline canta
a gente sonha.
Quem nom conheça a literatura de Agualusa já pode ir abrindo qualquer dos seus livros. Eu recomendo o último romance: "Milagrário pessoal", umha viagem na procura das palavras.
Agualusa nom é só um dos grandes escritores da nossa língua no mundo tamém é um dos grandes escritores do mundo em qualquer língua.
Agualusa tamém acredita nisso de que as palavras cámbiam o mundo. Assi que coincidimos. Ademais, mostrou-se mui interessado pola situaçom sociolingüística da Galiza e falou-nos da situaçom lingüística em Angola.
Tony Tcheka, desde a Guiné-Bissau:
POVO ADORMECIDO
Há chuvas
que o meu povo não canta
Há chuvas
que o meu povo não ri
Perdeu a alma
na parede alta do macaréu
Fala calado
e canta magoado
(..)
A Coca de Monçao. Um dragom no caminho.
O autor de Origem certa do farol de Alexandria e outros contos, Guisán Seixas, e o seu sombreiro, olhando um filme na Casa das Artes.
Um desenho com vinho, café e rotulador de Mito Elias, de Cabo Verde, que leva o bicho da poesia dentro mas tamém gosta de compartir. Aqui, um minuto da sua performance no I Encontro de Escritor@s da Lusofonia:
Despois de cinco desenhos, este é o que mais se parece a José Carlos Vasconcelos, que falou oracularmente sobre lusofonias, acordos ortográficos e outras cousas.
Chegam novas traduçons de relatos de Made in Galiza polo caminho que vai e vem de Eslováquia!
Da mao de Vlasta Moman e o blog Vlastovicka, já podemos ler em eslovaco a traduçom dos relatos O Home que Agardaba que lle Dixesen o que Tiña que Facer, A Muller que Vivía no Futuro e Instrucciones para Empezar a Hablar Gallego.
Aqui estám as nossas palavras -as tuas, as minhas, as nossas- convertidas em palavras eslovacas